MANIFESTUM Arte de Dizer 2022: Quarta edição de um Festival singular, feito de poesia e de palavras visíveis

Abordar a palavra para além do seu habitual corpo escrito, dotando-a de manifestações cúmplices e cruzadas, é um valor decisivo do MANIFESTUM arte de dizer, um festival que decorre em vários espaços do concelho de Valongo, nos dias 7, 8 e 9 de Outubro. Conta este ano com Sereias, Capicua, Cátia Moreira de Carvalho, Mário Cláudio, Rodrigo Guedes de Carvalho e muitos outros, em torno de um programa singular de celebração da palavra dita, com laboratórios, conversas, leituras e concertos.
São plurais os caminhos que a palavra transporta e o MANIFESTUM arte de dizer prova isso mesmo, nesta sua quarta edição. O programa de 2022 reforça o valor da palavra na sua dinâmica oral, cruzando nomes da literatura, poesia, jornalismo, fotografia e música, em momentos de conversa, leituras, performances, apresentações e espectáculos, com Augusto Brázio, Capicua, Cátia Moreira de Carvalho, Daniela Onís, João Rios, Mário Cláudio, Miguel Ribeiro, Nelson d’Aires, Ricardo Caló, Rodrigo Guedes de Carvalho, Rúben Alves, Rui Spranger, entre outros.
MANIFESTUM arte de dizer é um evento promovido pela Câmara Municipal de Valongo, com programação e produção da Exemplo Extremo.
O Programa de 2022 e a aposta no serviço educativo
A programação do MANIFESTUM, que se concentra entre 7 e 9 de outubro, assenta este ano em espectáculos pluridisciplinares com epicentro na palavra, com a sonoridade intransigente e as letras corrosivas dos Sereias, banda movida pela voz de António Pedro Ribeiro, e a palavra escrita, cantada e falada de RUGE, projecto de Rodrigo Guedes de Carvalho, Daniela Onís e Ruben Alves. Paralelamente, os Diálogos Benefício da Dúvida reúnem Mário Cláudio e Cátia Moreira de Carvalho, Capicua e Rodrigo Guedes de Carvalho, com moderação do jornalista e habitual anfitrião Miguel Ribeiro, prometendo duas conversas plenas e sem rede.
Mas o MANIFESTUM arrancou já em julho, com as leituras de rua Voz Longa, no âmbito da Feira do Livro de Valongo, e posteriormente com o laboratório de fotografia Viagens na Minha Terra, dinamizado pelos fotógrafos Nelson d’Aires e Augusto Brázio, cujo mote residiu no poema Na Floresta do Alheamento, de Fernando Pessoa, permitindo deambular por lugares e paisagens, buscando afinidades entre a dimensão da palavra e da fotografia.
A par desta proposta, implementada pelo Serviço Educativo, decorre em Setembro uma das afirmações do MANIFESTUM: o laboratório de leitura poética Há Palavras Que Nos Beijam, no âmbito do qual Ana Celeste Ferreira volta a conduzir um coro de vozes participantes, aprofundando as técnicas vocais e de leitura em voz alta e preparando um recital poético e performativo.
De reforçar que ambos os laboratórios, promovidos pelo festival junto da comunidade local, têm o seu apogeu em apresentações finais, que integram a programação central.
No espaço educativo, destaca-se ainda o vínculo com a Casa da Animação, levando a experiência fílmica em espaço exterior aos estabelecimentos de ensino. Nota ainda para a aposta no público mais velho, designadamente através do trabalho com a associação ASA – Acreditamos em Seniores Activos, e com o regresso de A Poesia vai à Feira, com leituras orientadas por João Rios e Rui Spranger nestes espaços públicos de Valongo e Ermesinde.
O já referido concerto com os Sereias decorrerá no dia 08 de outubro, pelas 21h45, no Fórum Cultural Vallis Longus e, para Adolfo Luxúria Canibal, "é uma benção ouvir estes Sereias. Recomecemos tudo de novo” grita A. Pedro Ribeiro a descerrar o novo álbum dos Sereias, abrindo espaço para o deambular de uma guitarra abrasiva sobre um ritmo persistente e incursões de teclados com reminiscências jazz-rock à anos 70. É este o mote para o novo álbum, um recomeço onde encontramos o free rock dos Sereias em todo o seu esplendor, uma mistura de post-rock e kraut em progressão contínua, tenso, obsessivo, massacrante, em jogos de texturas e piscar de olhos ao free-jazz e à música contemporânea e mesmo a algum tribalismo. Deste caldeirão sónico sai a voz psicótica de A. Pedro Ribeiro, ora gritada ora murmurada ora declamada, ora colérica ora depressiva, e a sua poesia bruta, de poeta de café em invectivas contra o mundo ou em lamentações existenciais. Mas contrariamente a “O País A Arder”, o disco de estreia, há aqui menos palavras de ordem sonantes, tipo “quero um primeiro-ministro para comer ao pequeno-almoço” ou “as putas da tv”, e um maior desespero face ao mundo, com as ambiências musicais a ganharem um protagonismo e um espaço inesperado, como em “Las Cadenas” – onde as vozes electronicamente traficadas desenham estritas narrativas sonoras –, e as ladainhas recitadas a serem repetidas uma e outra vez, a sublinhar a sensação de perda e o tom melancólico e angustiado que percorre todo o disco. “Ela vem, volta sempre, a depressão”, como rediz à exaustão A. Pedro Ribeiro, abandonando-se ao fado da inadaptação social e da carência afectiva que o faz cair “no fundo do copo, no fundo do abismo” por entre farrapos de melodia. E de nada valem as visões apocalípticas nem os avisos de que “a coisa vai estoirar” apoiados num crescendo rítmico de tramas explosivas, pois o destino está traçado: “voltar, voltar sempre”. E que bom que é este regresso! Numa altura em que a música portuguesa navega maioritariamente por um nacional-cançonetismo modernizado disfarçado de pop é uma bênção ouvir estes Sereias e a sua quimera disruptiva sob a forma de música, onde a criação é um impulso vital e urgente. Bem hajam!"
Valongo, a casa da palavra dita
O MANIFESTUM nasce do interesse do Município de Valongo em apresentar um evento singular ligado à palavra: “Esta iniciativa insere-se numa aposta muito forte na Cultura, enquanto pilar de desenvolvimento da comunidade e de projecção do território”, refere José Manuel Ribeiro, Presidente da Câmara Municipal de Valongo, validando a aposta reiterada da autarquia no valor acrescentado da poesia e da celebração da arte de dizer.
De registar que, em edições anteriores, passaram pelo MANIFESTUM nomes como Ana Luísa Amaral, Ana Deus, Adolfo Luxúria Canibal, Alexandre Quintanilha, António Victorino D’Almeida, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, João Gesta, João Habitualmente, Lúcia Moniz, MAZE, Pedro Lamares, Pedro Mexia, Rui Reininho, Rui Zink, Tó Trips, entre muitos outros.
O programa do MANIFESTUM arte de dizer é de acesso livre e gratuito.